CFC indica que os contadores explorem mais competências

Fonte: Jornal do Comércio
04/10/2019
Contábil

As novas dinâmicas de negócios, ao contrário do que muitos acreditavam, não parece ameaçar os profissionais qualificados, dinâmicos e capazes de usar as tecnologias a seu favor. No caso dos contadores, maximizar o valor e a contribuição da atividade contábil para a gestão dos negócios é fundamental no mundo atual.

O presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Zulmir Breda, destaca que "as habilidades e competências necessárias aos profissionais da área estão mudando e, cada vez mais, incluem a aptidão para construir relacionamentos, a comunicação eficaz, a capacidade de solucionar problemas, a qualificação para a inovação e a capacidade de lidar com dados e tecnologia". Para Breda, hoje é crucial entender como progride a área contábil para garantir que as funções exercidas pelos contadores estejam adequadas para atender às necessidades da organização.

JC Contabilidade - Você acompanha há alguns anos as mudanças na área contábil. Quais você destacaria que fizeram grande diferença nos últimos anos e quais são as principais tendências futuras?

Zulmir Breda - Quando falamos em tendências para o futuro, a primeira certeza que temos é que as mudanças vieram para transformar a nossa profissão, mas não para acabar com ela. Há importantes e definitivas mudanças na área do desenvolvimento tecnológico, nas formas de disseminar o conhecimento por meio de várias mídias sociais e em modernas configurações na gestão de grandes e pequenas corporações. Esses são apenas alguns exemplos de uma realidade em ampla mutação, que vem sendo impactada pela transformação digital e seus ilimitados recursos. Vivemos um período em que não apenas a Contabilidade, enquanto ciência ou atividade profissional, sente os impactos do ligeiro avanço da tecnologia. Muitas outras profissões, senão todas, estão passando por processo semelhante de adaptação ao mundo digital.

Contabilidade - O uso de novas tecnologias, como, por exemplo, robôs, softwares de gestão, inteligência artificial, impacta de que maneira no dia a dia da profissão? Você acredita na substituição do contador por sistemas informatizados?

Breda - Apesar de sabermos que a Inteligência Artificial (IA), o machine learning e a robótica estão transformando a realização dos negócios, suprimindo determinadas operações, especialmente aquelas de repetição e que seguem determinados padrões de execução, a tecnologia ainda não consegue substituir a aplicação do raciocínio humano em inúmeras atividades e ações. Nós acreditamos que os sistemas já realizam um grande número de atividades que há alguns anos eram feitos manualmente. Mas etapas decisivas, como, por exemplo, o planejamento e o controle da execução de ações em gestões de empresas públicas e privadas, isso cabe exclusivamente à habilidade humana. Porém, cabe a nós, individualmente, e com o apoio da academia e das entidades representativas da classe contábil, buscarmos a qualificação necessária para aproveitarmos o momento atual da profissão, caso contrário ficaremos obsoletos rapidamente.

Contabilidade - Muito se fala sobre a importância do contador para ajudar na gestão das empresas. Você acredita que essa mudança de postura tem ganhado força?

Breda - Sem dúvida, o conhecimento técnico dos contadores é fundamental para a gestão das organizações, e o papel dos profissionais, dentro das empresas, também está evoluindo. Para reforçar essa opinião, cito um importante estudo feito pela Federação Internacional de Contadores (Ifac, na sigla em inglês), sobre a avaliação das funções financeiras - entre as quais estão as de contabilidade - e os papeis dos profissionais para a próxima década. Esse documento, que é dividido em três publicações, estuda a natureza do trabalho realizado por contadores e as suas contribuições para as organizações, analisando a rápida evolução desses profissionais em resposta às tendências de mudanças significativas no mundo dos negócios.

Contabilidade - Você aposta no desenvolvimento mais amplo de alguma especialização, como, por exemplo, auditoria, perícia, contabilidade fiscal ou gerencial?

Breda - Acreditamos que todas essas áreas citadas da contabilidade têm as mesmas perspectivas para o futuro. Na verdade, mais do que o campo de especialização escolhido, o que vai definir o sucesso ou não do profissional é o quanto ele estará disposto a continuar aprendendo, de forma ininterrupta. O que hoje é sinal de conhecimento, amanhã já pode estar superado. Então, a capacidade pessoal de se manter motivado, de não se acomodar, de buscar o novo, será tão importante quanto o conhecimento técnico, independentemente da opção de especialização escolhida.

Contabilidade - Nos últimos anos a profissão contábil foi bastante impactada pela recessão econômica, que criava empecilhos ao crescimento das empresas e desafios a quem tinha de lidar com o fechamento das contas, balanços, demonstrações financeiras. Você acredita em uma retomada da economia brasileira? Que impacto isso deve ter na profissão contábil?

Breda - Apesar de ter uma carga tributária muito elevada (em torno de 34% do PIB) para um país de renda per capita baixa como a nossa, o Brasil vem enfrentando, há alguns anos, uma grave crise fiscal. Desde 2014, o País tem déficit primário e, pra piorar, o Brasil tem hoje uma dívida pública em torno de 80% do PIB. Esse é um cenário muito complicado para o Governo brasileiro. Não podemos acreditar em retomada significativa da economia enquanto o Poder Executivo não resolver as suas contas. Mas confio que teremos ganhos nesse sentido nos próximos anos. Agora, qualquer crescimento da economia é fundamental para a classe contábil, uma vez que a movimentação dos negócios impulsiona a atividade e cria oportunidades. A contabilidade é essencial não apenas para demonstrar a realidade da saúde financeira das empresas, mas também é instrumento de gestão, inclusive para micros e pequenas empresas.

Contabilidade - Uma série de mudanças na legislação tributária e nas obrigações ocorrem todos os dias no Brasil. Que tipo de insegurança isso cria? Na sua opinião, é mais difícil ser contador no Brasil do que em outros países?

Breda - Essa é uma reclamação não só dos contadores, mas da sociedade brasileira em geral. Tanto que o tema da Reforma Tributária, por exemplo, tem andado na pauta do Governo há mais de 20 anos, sem que se tenha feito algo de concreto a respeito, salvo algumas alterações pontuais ocorridas na legislação tributária. Claro que o atraso na Reforma é um empecilho profissional para a classe contábil, que tem que prestar atenção nessas mudanças quase que diariamente, mas creio que os profissionais brasileiros são preparados para isso, tanto que a nossa classe é respeitada internacionalmente. Cabe lembrar, ainda, que em outras crises mundiais, o Brasil saiu ileso pela contabilidade que possui.

Contabilidade - O CFC trabalha fortemente na promoção de educação continuada e na realização do exame de suficiência. Como essa ferramenta ajudou e ainda ajuda no desenvolvimento profissional e na maior valorização dos contadores no País? Os profissionais em geral têm bom desempenho?

Breda - O principal objetivo do Exame de Suficiência é o de avaliar as condições mínimas necessárias para que o profissional tenha a permissão para ingressar no mercado de trabalho, com as prerrogativas que a legislação exige. Queremos que o desempenho dos profissionais sempre melhore, pois nosso propósito é que tenhamos no Brasil um nivelamento por cima em termos de qualidade dos cursos de Ciências Contábeis, o que reflete diretamente no desempenho dos futuros contadores. O Exame de Suficiência possui uma relevância muito grande para a qualificação e valorização da profissão. Outro ponto que quero destacar refere-se ao Programa de Educação Continuada mantido pelo CFC. Esse programa permite que o profissional se atualize constantemente e busque expandir os conhecimentos e competências técnicas, habilidades multidisciplinares, além da elevação do comportamento social, moral e ético.

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