Jovem líder aprende na prática separar o pessoal do profissional

Fonte: Folha de S.Paulo
30/11/2018
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Um terço dos brasileiros (30,5%) de 25 a 34 anos é dono de negócios próprios em estágio inicial. Ou seja, resolveram enveredar pelo empreendedorismo.

Os dados fazem parte do levantamento Global Entrepreneurship Monitor 2017. O índice corresponde a 10,5 milhões de jovens empresários, o maior contingente entre as cinco faixas etárias contempladas. O segundo lugar é ocupado pelo bloco anterior, 18 a 24 anos, com 20,3%, o equivalente a 5,2 milhões de pessoas.

Com presença significativa no universo das startups, esses empreendedores tendem a exercer desde cedo posições de liderança nesse ramo.

A companhia cresce, e o empresário, que muitas vezes respondia sozinho pelo negócio, passa a contar com uma equipe de colaboradores.

A natureza dessa transição impactará o início da trajetória do agora chefe, impondo desafios principalmente no convívio com os outros.

Isso porque, antes, as atenções do empreendedor estavam voltadas quase exclusivamente para o desenvolvimento do produto ou serviço.

De acordo com Fabio Appolinário, professor da HSM e doutor em psicologia, nesse estágio, o líder não se enxerga como tal e "não sabe como gerenciar conflitos e visões divergentes na equipe".

Esse cenário se assemelha à trajetória da plataforma Looqbox, lançada em dezembro de 2013 pelos irmãos Rodrigo, 37, e Daniel Murta, 27.

O programa funciona como um buscador interno para negócios. Por exemplo, se o empresário quer saber qual foi o faturamento de determinado período em comparação com outro, basta digitar algo na linha "vendas em outubro x vendas em setembro".

Daniel, diretor de tecnologia da companhia, conta que, no fim de 2016, tinha uma equipe de cinco pessoas. Em 2017, eram dez e, agora, 23.

"Quando chegamos a 20 funcionários, tudo mudou. Começaram a surgir dúvidas e questões sobre feedback e planos de carreira, afirma.

Atualmente, a empresa tem 29 clientes, incluindo o supermercado St. Marche e a Via Varejo, responsável pelas operações de Ponto Frio e Casas Bahia. O faturamento é de pouco mais de R$ 300 mil por mês.

Lidar com a equipe da Looqbox, que tem idade média de 25 anos, é um "ponto bem delicado", acrescenta Daniel.

"Tem que ser muito honesto, dizer se gostou ou não gostou de determinada coisa. É preciso 'mandar na hora'. Se você deixar passar algo pequeno, vai ficar remoendo e pode ficar ruim no futuro", diz.

Para Appolinário, por muitas vezes não terem história de vida e repertório de experiências de trabalho, o jovem líder do mundo das startups busca referências na vivência anterior, a faculdade.

No mundo universitário, seus amigos são as pessoas de quem ele gosta, com quem tem afinidade. Esse modo de pensar, no entanto, não é compatível com a nova forma.

"Ele vai, provavelmente, confundir as coisas. No trabalho, o critério é outro, é preciso olhar a atuação da equipe pelo ângulo da competência, não pelo fato de o colaborador ser meu 'brother'. O 'brother' talvez não seja o mais competente", afirma o professor.

No curso de liderança para jovens talentos da FGV-SP, os alunos têm aulas sobre tipos psicológicos, com base nos estudos de Carl Jung (1875-1961).

O intuito é aprofundar a dimensão do humano, segundo José Alvaro Filho, professor do programa. Com esse conhecimento em mãos, o líder pode adequar seu discurso ao perfil do colaborador, aumentando suas chances de sucesso.

É também uma tentativa de promover o autoconhecimento. "Sem isso, você não tem repertório para lidar com as outras pessoas", diz José Alvaro.

O professor nota que, atualmente, há um grande interesse nesse tipo de matéria. Antes, excelência e alta performance eram o foco.

Uma das abordagens de Daniel em relação à equipe é procurar se colocar na posição da pessoa, "para ver se ela pega o nosso ponto de vista". "Os novos se saem bem quando a gente consegue dar um direcionamento legal."

Mesmo assim, ele diz tentar deixar claro que não tem todas as respostas.

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